Fonte: http://revistatenis.uol.com.br
A CADA COMPETIÇÃO, OS ASPECTOS psicológicos são
fundamentais para determinar os rumos de grandes decisões. São nesses
momentos que se manifestam positiva ou negativamente essas questões.
Muitos atletas se queixam de episódios ocorridos que evidenciaram a
falta de preparo mental para o jogo de tênis. Esses acontecimentos não
são meros detalhes, há inúmeros exemplos de partidas que foram decididas
justamente por consequência de componentes emocionais, a favor ou
contra, os vencedores e derrotados. Sendo assim, quais as principais
habilidades psicológicas que um tenista deve possuir para se tornar um
atleta diferenciado? Devemos levar em conta os padrões de comportamento e
as características individuais. Comportamentos são aprendidos e as
pessoas podem mudar características ao longo do tempo, qualquer
habilidade pode ser desenvolvida.
MAS, AFINAL, O QUE É HABILIDADE PSICOLÓGICA?
Como o nome já diz, habilidades são qualidades ou atributos a serem
obtidos. Tal como as habilidades físicas e técnicas, as psicológicas
necessitam de tempo, prática, repetição e conhecimento para que se possa
melhorar o desempenho e obter resultados mais consistentes. Todos os
aspectos que vamos listar a seguir podem ser desenvolvidos em longo
prazo e podem até ser transferidos para vida fora do âmbito esportivo.
1. EQUILÍBRIO EMOCIONAL
Os esportes competitivos talvez sejam um dos poucos fenômenos sociais
em que as emoções oscilam abruptamente. Se nos espectadores é comum,
imagine nos protagonistas. Desenvolver o equilíbrio emocional é
fundamental para um tenista. Um erro pode ocasionar uma avalanche de
sentimentos negativos e levar à derrota. Saber retornar desses momentos
(frequentes) dos jogos é uma habilidade que pode ser diferencial para
uma decisão e até para a carreira de qualquer futuro atleta. A tensão
exacerbada proporciona emoções negativas como raiva, frustração e medo.
Como consequência, pode-se desencadear problemas durante a atuação,
incluindo a tensão muscular e desvio de concentração, que propicia as
distrações, lentidão de raciocínio na execução de golpes, movimentos
lentos, entre outros.
DICA
Utilize o tempo entre os pontos a seu favor. Cerca de 70% de um jogo
de tênis se passa com a bola parada. 30 segundos podem lhe ajudar muito
para reduzir seu ritmo cardíaco e ansiedade. Relaxe os músculos dos
braços, respire profundamente. Usar esse tempo favoravelmente torna-se
imprescindível.
2. CONCENTRAÇÃO
Sempre ouvimos alguém dizendo "Concentre-se", "Foco", etc. Você sabe o
que é isso? No esporte, estar concentrado é um dos aspectos importantes
para o bom rendimento. No tênis, é vital. A concentração é um tipo de
percepção. A percepção é basicamente é uma capacidade cognitiva que nos
faz reconhecer o mundo ao nosso redor através dos sentidos (visão, tato,
olfato, audição, paladar). Portanto, para perceber alguns eventos que
nos cercam, nosso cérebro utiliza a atenção.
Nosso ambiente está cercado por vários estímulos que aguçam a nossa
percepção, e a atenção seleciona e codifica alguns deles que nos
interessam no momento. Quando focamos em poucos estímulos, utilizamos a
concentração - que nada mais é do que prestar mais atenção naquilo que é
relevante para nós naquele determinado momento. Ou seja, em quadra
seria focar na bolinha, no adversário, nos pensamentos e nas sensações
corporais. Quando você ouvir alguém falar de foco, lembre-se de um feixe
de luz iluminando um local escuro. A falta de concentração em
determinados momentos do jogo é uma das queixas mais frequentes que os
psicólogos do esporte escutam não só de tenistas, mas de atletas de
diversas modalidades (exemplos: como se concentrar e não ficar pensando
na torcida, na prova da próxima semana, no namorado, na festa de
aniversário etc).
No tênis as interações são rápidas, as trocas de bolas, o saque, a
movimentação, por isso a concentração é uma habilidade muito influente.
Em outros esportes, o nível de concentração não precisa ser tão
exacerbado.
DICA
Muitas vezes, os jogadores ficam remoendo os erros, pensando neles
durante grande período e esquecem de focar no "Aqui, agora". Isso
desconcentra. Os rituais ajudam muito a manter o foco. Foque-se nos
aspectos relevantes ligados ao desempenho da tarefa no momento que está
acontecendo. Tenha pensamentos positivos.
3. TOLERÂNCIA À FRUSTRAÇÃO/ PERSEVERANÇA
As derrotas podem ensinar mais do que as vitórias. Pouco tempo atrás,
Novak Djokovic era um coadjuvante em relação a Rafael Nadal e Roger
Federer. Em diversas entrevistas, ele disse que aprendeu muito com as
suas derrotas. Esse foi seu principal combustível para se desenvolver,
estudar os seus erros e obter a confiança para perseverar. Alguns
adversários são mais do que simplesmente rivais, eles podem proporcionar
indiretamente as condições para a evolução de um atleta.
Encontre o lado positivo em suas derrotas. Se a derrota equivalem ao
fracasso, nunca se ganhará a batalha da confiança com esse tipo de
crença. Tenha a capacidade de aprender muito mais com uma derrota que de
com uma vitória.
DICA
Seu lema deve ser sempre: "Ganhando ou perdendo, vou dando outro
passo adiante em busca de evolução". Isso independentemente do resultado
de suas partidas.
4. DESEMPENHO SOB PRESSÃO E SOB ADVERSIDADES
Controlar a ansiedade nos momentos mais difíceis, fechar um game, um
set, no match-point, ou, pelo contrário, tentar reverter um placar
adverso, quebrar o saque do adversário quando acabou de perder, são
comportamentos típicos que ocorrem durante os jogos e que naturalmente
põem pressão em quem está atuando.
Todo atleta, antes do início de uma partida, sente-se ansioso,
agitado, apreensivo de que possa acontecer algo inesperado. Não é
adequado que essas sensações cresçam e se tornem amedrontadoras a ponto
de as pessoas não conseguirem realizar plenamente suas capacidades.
Aceitar que a ansiedade é inevitável na competição e saber que pode
lidar com ela é uma habilidade essencial para recuperar o controle
psicológico na sequência de acontecimentos inesperados ou distrações.
Superar o medo, ele é uma emoção natural do ser humano e pode ser
controlado.
O psicólogo do esporte canadense, Garry Martin, ensina que, para
eficácia dos aspectos psicológicos - quando eles são transferidos para o
ambiente das competições -, os treinos devem ser o mais semelhante
possível às exigências durante o torneio. É importante treinar saques e
outros golpes, mas deve ser dado tempo para treinar questões mentais.
Como isso pode ser feito? Simulando condições típicas competitivas,
treinos mais intensos, com jogadores roubando os pontos, perdendo sets,
com torcida a favor ou contra, com ruído e som alto, com placares
adversos etc. Na preparação para os Jogos Olímpicos de Pequim 2008, a
equipe de badminton chinesa utilizou de muitos treinos simulados,
principalmente com o ginásio lotado, para ensinar aos seus atletas como
lidar com a pressão da torcida e adversidade de um jogo, já que esse
esporte é um dos mais populares na China. Portanto, a pressão pelo ouro
olímpico seria inevitável. Os atletas chineses não decepcionaram levaram
todos os ouros da modalidade.
Mesmo os grandes gênios do esporte, em algum momento da carreira,
tiveram obstáculos e percalços e precisaram se superar para reconduzir
sua trajetória. Essa característica é chamada de resiliência, termo que,
assim como a palavra estresse, vem da física, e a psicologia emprega
para designar o indivíduo que consegue ultrapassar grandes adversidades,
resistir às pressões e, com muito esforço, reconduzir a sua vida. Na
resiliência, a motivação é componente primordial de todo o processo de
superação.
DICA
Respire profundamente entre os pontos, antes de sacar e quando se sentir agitado ou distraído.
5. AUTOCONFIANÇA
Confiar em si mesmo e na sua equipe é uma habilidade que deve ser
desenvolvida. Quem não a possui dificilmente consegue se dar bem no
tênis. Autoconfiança é diferente de soberba, é entender que você possui
qualidades e também limitações, é saber utilizar suas qualidades nos
momentos negativos e trabalhar suas limitações nos treinos.
Assim como saber perder, aprender com as derrotas é uma lição
importante, valorizar e usufruir das vitórias também é um comportamento
que estimula a autoconfiança. Compartilhar sua felicidade com os colegas
de equipe é uma atitude que lhe ajudará a desenvolver isso. Nos
momentos de crise e adversidade, é necessário se lembrar das sensações
da vitória, do prazer proporcionado ao conseguir um objetivo.
Pensar positivo, ter uma atitude positiva, verbalizar coisas
positivas é tão importante em treino quanto em competição. Essas ações
repercutem em nosso corpo, deixando-o mais relaxado e equilibrado para
executar os movimentos necessários. Corpo e mente estão interligados e,
por isso, as atitudes negativas também refletem em nosso corpo. A
consequência, entre outros aspectos, é o desequilíbrio e a diminuição da
performance.
Em competição, quanto mais você enfrenta adversidades, mais positivo
tem que ser para construir a sua confiança e autoestima. A confiança
está relacionada diretamente com o êxito percebido. Então, muitas vezes
os tenistas só acham relevantes as vitórias nas partidas, quando o mais
importante é sua atitude durante o jogo, ou seja, há jogos que se vence
jogando mal e outros que se é derrotado jogando bem.
DICA
Uma estratégia que pode ajudar é o autodiálogo positivo, não só nos
momentos de dificuldade, mas também nos acontecimentos positivos. No
autodiálogo, o objetivo é ajudar os tenistas a controlar os seus
pensamentos durante o treino e a competição para contribuir com o
sucesso. Vibre bastante.
6. MOTIVAÇÃO
Podemos definir motivação basicamente como os motivos que nos levam
às ações em busca de nossas metas em todos os aspectos de nossas vidas.
Pode ser exemplificada também como a direção e a intensidade de nossos
esforços. Sejam eles estudar para passar no vestibular ou treinar
intensamente o ano todo para ganhar um campeonato. Motivação é uma
"energia psicológica" que faz com que nos comportemos de determinadas
maneiras. Para saber o que lhe motiva é imprescindível ter
autoconhecimento. Portanto, quando falamos de motivação não existe
"receita de bolo", pois ela é pessoal, individual e exclusiva. Não há
motivação sem busca por metas.
As metas podem tornar nossos sonhos e ambições profissionais
palpáveis, desde que façamos algo para alcançá-las. É preferível, do
ponto de vista psicológico, que se pretenda alcançar metas de atuação em
vez de resultados. As metas de atuação podem ser controladas. Os
resultados, não. As metas de atuação são de esforço, por exemplo: ter
uma boa atitude durante o jogo; manter-se confiante nos momentos
difíceis; atacar em bolas curtas; jogar preferencialmente golpes
cruzados ou subir à rede. Esse tipo de meta é mais fácil de executar,
depende exclusivamente do indivíduo. As metas por resultados (ganhar um
torneio, chegar às quartas-de-final, dar um "pneu" no adversário) são
mais complexas de se atingir, pois não dependem fundamentalmente do
indivíduo, mas de outras variáveis que não podem ser controladas e a
probabilidade de frustração é muito alta.
DICA
Estabeleça metas (de curto, médio e longo prazo) e escreva-as. Elas
tem que ser: específicas (melhorar um golpe), mensuráveis (possível de
ser medida), dentro do controle (possível de ser adquirida com treino),
realistas (de acordo com suas habilidades no momento) e de limite
temporal (data para conseguir realizar).
7. RESPEITO
Respeitar o adversário, as regras do jogo, o fair-play, o ambiente
competitivo, os horários da partida, os árbitros, assistentes e
colaboradores deve ser um objetivo. Apesar de o tênis ser um esporte
individual, ele é um jogo e necessariamente precisará de pelo menos
outra pessoa para dividir a quadra. Por mais que em determinadas
ocasiões algum adversário tenha um comportamento desrespeitoso, tenha
uma atitude superior e não caia nesse tipo de "catimba".
DICA
Adversários sim, inimigos não.
8. INTELIGÊNCIA TÁTICA
Saber ler as nuances do jogo do adversário, seus pontos fortes e
fracos, e utilizar estratégias para minimizar as jogadas dele. Isso é
inteligência tática. Em competições, os jogadores deveriam evitar focar
em seus pontos fracos (deixe isso para os treinos). Devem pensar nos
pontos positivos de seu jogo, tendo por base os pontos fortes, ou seja,
abusar de suas jogadas de confiança. Quanto mais positivo for durante a
competição, melhor, mesmo que seus pensamentos sejam negativos com
relação a si mesmo.
É importante ter um repertório grande de variação de jogadas e ter
paciência para colocá-las em prática nos momentos adequados. Nem sempre
seu estilo de jogo irá se encaixar com o do adversário. Ter coragem de
arriscar pode ser fundamental quando estiver numa situação como essa.
Jogar com simplicidade também ajuda.
Inteligência não é sinônimo de belas jogadas. Em muitos momentos,
fazer o básico para marcar um ponto pode ser a estratégia mais adequada.
DICA
Treine com jogadores com estilos diferentes e tente impor seu jogo. Isso lhe ensinará a desenvolver inteligência tática.
9. DISCIPLINA
Habilidade e talento por si só não são os únicos requisitos para uma
carreira vitoriosa. É necessário muita disciplina. Michael Jordan disse
certa vez que 90% é transpiração e 10% inspiração. Pelé frequentemente
comenta que após as rotinas diárias, ele ficava mais tempo treinando
faltas com a sua perna esquerda (ele é destro) e cabeceio (que ele dizia
ser seu pior fundamento).
Treinar com intensidade, cuidar da alimentação e dormir bem são
fundamentais para qualquer atleta. O treinamento esportivo nada mais é
do que repetição de exercícios. Há um estudo que diz que, para ser
especialista em qualquer área, são necessárias 10 mil horas de prática.
Portanto, isso leva anos para ser adquirido.
Infelizmente, algumas coisas terão de ser deixadas de lado em algum
momento na carreira esportiva. Às vezes, o lazer, a convivência com os
amigos e até familiares. Porém, todos os seres humanos necessitam de
momentos de relaxamento e de descanso (físico e mental). Entregar-se a
eles faz parte de uma atitude disciplinada. Desligue do tênis nessas
ocasiões e aproveite para fazer algo que não faz com tanta frequência.
DICA
Disciplina é também sinônimo de paciência, de comprometimento e de responsabilidades.
10. ESPÍRITO DE LUTA
Alguns comportamentos podem ser sinônimo de espírito de luta: garra,
atitude, intensidade, coragem, jogar do primeiro ao último ponto com a
mesma gana e energia, manter uma situação emocional construtiva quando
as coisas vão mal, acreditar em seu potencial. Pense nos comportamentos
de Nadal em quadra, eles sintetizam essas características.
Treinar e jogar com intensidade é uma habilidade que requer
repetição. Você dará o melhor de seu jogo quando puder manter um estado
de intensidade elevada e de energia, que se alimenta essencialmente de
suas emoções positivas. Os sentimentos de entusiasmo, inspiração,
decisão e desafio são um ponto central para se desenvolver nessa
habilidade. Os treinamentos servem de termômetro para as competições, ou
seja, não há formula mágica. Quanto mais semelhante os treinos forem
das competições, melhor. Dessa maneira, muitas características podem ser
generalizadas e transferidas. O treinamento sem qualidade não lhe
capacitará para competir bem.
DICA
Entre em quadra nos treinos e competições para fazer o melhor que você pode naquele dia.
Referências: Cristina Rolo, Daniel Haan; Treino mental no tênis: estratégias práticas para o sucesso, (2009). Robert Weinberg & Daniel Gould, (2001). Fundamentos da Psicologia do Esporte e Exercício. Ed. Artmed. Garry Martin; Consultoria em Psicologia do Esporte (1997), Ed. IAC. Dietmar Samulski: Treinamento mental no tênis: como desenvolver as habilidades mentais; Ed. Manole. James E. Loehr El Juego Mental; Editora Tutor. W.T. Gallwey. O jogo interior de tênis (2004), ed. Texto Novo.