Fonte: http://tenis-portugal.com
O jovem austríaco de 22 anos foi submetido
durante um período da sua ainda curta carreira aos mais duros testes que
se podem pensar — alguns pouco ortodoxos — mas sem dúvida eficazes
pelos resultados que tem vindo a apresentar. A publicação conta a
história de vida de Thiem ao detalhe, fazendo uma alusão ao que passou
para chegar onde está hoje. Uma incrível história de sacrifício!
Desde muito cedo que Dominic Thiem chamou à atenção pelo seu grande talento e caráter dentro dos courts. Aos 17 anos, Ivan Lendl recomendou-o à Adidas
para fecharem um contrato que durasse vários anos, contrato esse que
ainda hoje os liga. Mas faltava algo a este rapaz. Apesar de toda a
qualidade espelhada dentro de campo, Thiem não tinha a condição física
desejada para um jogador do seu nível. O seu treinador de longa data, Gunter Bresnik,
conhecia esse aspeto menos positivo e tentou encontrar um preparador
físico que superasse essa limitação, mas sem sucesso. Foi então que
surgiu Sepp Resnik.
Tudo começou no outono de 2012, segundo conta a Fleisch Magazin,
quando Bresnik e Resnik se encontraram. Resnik foi um super-atleta,
talhado para fazer todas as provas que levam ao limite o corpo humano,
como o Ironman, Ultra-Triatlos, dar a volta ao mundo em
bicicleta ou cruzar o estreito de Gilbratar a nado. Foi este o homem a
estar por detrás de Dominic Thiem, o que a sua própria mulher apelidava
de “Ferrari Mouse”.
No final do ano de 2012, Gunter convidou
o preparador físico para fazer uma avaliação e saber se este era capaz
de o ajudar. Resnik observou o Thiem durante 10 minutos e rapidamente
chegou a uma conclusão: “Gunter, já vi tudo. O rapaz pode fazer tudo da cintura para cima, mas não consegue fazer nada da cintura para baixo”, fazendo uma alusão à sua fraca condição física a nível de pernas e resistência.
O carismático preparador físico aceitou
trabalhar com Thiem mas não sem antes impor uma condição: Bresnik tinha
que aceitar a utilização dos seus métodos excêntricos de treino. Bresnik
aceita, assim como Thiem, apesar de algo receoso, dando início
à colaboração durante a época natalícia ainda do ano de 2012.
O primeiro treino
Dominic Thiem nem sabia o que
o esperava. Logo no primeiro treino, Resnik levou o austríaco para o
parque da academia militar em Wiener Neustadt, onde o fez correr 15 Km
durante a noite. “Fomos correr a meio da noite porque assim não
seriamos distraídos. Da primeira vez, o Dominic perguntou-me onde eram
os balneários, ao qual eu respondi: os balneários são os troncos das
árvores. E eu disse-lhe: o que esperavas mais à meia-noite? Quando eu
disser direita, tu vais para a direita, quando eu disser esquerda tu
vais para a esquerda. Eu já corri 60000 km neste parque, conheço-o como a
palma da minha mão”.
No primeiro treino juntos, Dominic Thiem parou 16 vezes para descansar em 15 quilómetros, revelou Resnik. “A pulsação do rapaz foi levada ao limite”. Duas semanas mais tarde, já só fez duas paragens.
Não havia conversas formais com Resnik,
ele era um comunicador nato. Quando a conversa ia para o tema dormir e
lhe era questionado como é que Dominic Thiem aguentaria dentro de court depois de no dia anterior ter corrido durante 15 km a meio da noite, o preparador físico dizia não existirem desculpas: “Durante anos treinei todas as noites. Todas as tardes eu ia de Viena até Wechsel de bicicleta [Wechsel fica numa montanha a 1700 metros de altitude a 100 km a sul de Viena]. E às 7:30 da manhã estava levantado a dizer bom dia aos meus colegas”.
Thiem não percebia o estilo de vida do seu preparador: “Quando é que dormias?”, perguntou o jovem. “Não dormia”, respondeu Resnik, “não dormi durante décadas”. Thiem não entendia, “um homem não pode viver sem dormir”. “Achas que eu estou mal? Não gasto o meu tempo a dormir”, finalizou Resnik.
Resnik havia tido uma carreira militar
durante a sua vida. Treinava das sete da tarde até às cinco da manhã e
aos fins-de-semanas participava em corridas. Teve como mentor Hans
Schackl, que lhe deu a ler um livro sobre a guerra para entender os seus
métodos, o que faz de Thiem uma parte da obra de Hans.
Enquanto estiveram juntos, o atual número 14 do ranking
mundial nunca pisou um ginásio, pois Resnik não gostava desse método de
treino. Corria pelos bosques, levantava troncos e nadava em rios
gelados, continuando os treinos com a roupa molhada. “Fazia-o correr
por um trilho durante duas horas, e a cada 5 minutos punha-lhe um
tronco de 25 quilos nos ombros, e alternávamos entre nós. Também o
obrigava a fazer agachamentos durante 45 minutos. Quando ele gritava
(“não aguento mais”) por já não poder mais, por sentir dores, ele olhava
para mim e eu dizia-lhe para não voltar a repetir o que disse. Se eu
com 60 anos consigo fazer, tu com 20 devias conseguir o triplo”.
Passado pouco tempo, os resultados começaram a aparecer e Thiem começou a subir no ranking, continuando a demonstrar um grande caráter dentro de campo. Resnik dizia-lhe que “quando entrares para dentro de campo és um animal, isto não é um jogo, mas sim a guerra”.
Sepp Resnik retirou-se há dois anos, mas
com a consciência de ter cumprido a missão a que se propôs. Deu a
Thiem dois livros, um sobre Budismo Zen, para aprender a respirar bem, e
outro sobre autonomia. Hoje em dia, Thiem deixou para trás os treinos
noturnos, desfrutando agora de passeios pelos lugares que outrora
significaram dor e sacrifícios, mas certamente não se arrepende de todos
os treinos na escuridão.
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