terça-feira, 25 de março de 2014

Projeto que ensina tênis a adolescentes.

Fonte: Jornal Pioneiro

O menino Dênis Pereira, 16 anos, foi campeão em oito de dez torneios que disputou na região



Na Zona Norte de Caxias, projeto que ensina tênis a adolescentes revela cidadãos melhores e novos talentos Diogo Sallaberry/Agencia RBS
Dênis iniciou no tênis aos 14 anos. Seu sonho é ensinar o esporte a outras crianças 
 Foto: Diogo 
Sallaberry / Agencia RBS
 
Na primeira vez que a raquete foi parar nas mãos de Dênis Pereira, seria difícil afirmar qual achou o outro mais esquisito. Pouco adepto dos esportes, o menino de 14 anos atendia por curiosidade ao anúncio feito pela professora sobre umas aulas gratuitas de tênis que estavam por começar na Zona Norte de Caxias. A raquete, por sua vez, acostumada a andar de mãos dadas com a elite, estranhou aquele menino da Vila Ipê, oriundo de família simples — o pai é taxista, a mãe, faxineira. Por ossos do ofício, foi obrigada a dar uma chance ao rapaz. E desde o primeiro encontro, a dupla não se desgrudou mais. Em menos de dois anos, Dênis e sua raquete preta com detalhes brancos disputaram juntos dez torneios pela região. O menino faturou oito. Em dois, foi vice-campeão.




O talento de Dênis desponta em meio a 30 outros garotos que participam do projeto Tênis na Comunidade: Revelando Campeões, que ocorre no Complexo Esportivo da Zona Norte. O professor e idealizador do projeto, Vinicius Flores, 24, vê no pupilo um jovem atleta que se diferencia pela frieza, qualidade que já o fez derrotar adversários mais bem treinados, muitas vezes meninos que cresceram jogando nas quadras de seus condomínios fechados.

Vinicius compara o estilo de Dênis ao do espanhol Rafael Nadal, atual primeiro lugar do ranking mundial. Porém, não esconde que o encontro ocorreu tarde demais para fazer de Dênis um profissional do esporte de Gustavo Kuerten e Roger Federer — esse um ídolo do jovem, que sequer viu Guga jogar.

— Para um tenista, 14 anos é tarde para começar. Não é impossível, mas a maioria inicia por volta dos seis anos, nove no máximo, e conta com professores particulares. Por mais que a gente dê atenção, o treino do Dênis é dividido com 10, 15 meninos  — explica.

Dênis, porém, não quer ser astro. Quer ter uma profissão a seguir e isso o esporte já lhe deu. Decidiu que irá cursar Educação Física e ser professor, assim como o seu outro ídolo, o Vinícius. Os primeiros passos já estão sendo dados. Não apenas sendo grande no esporte, mas sendo uma espécie de monitor dos mais jovens durante as aulas e sabendo o porquê da importância do esporte no desenvolvimento de cidadãos.

— O tênis ensina a ser mais responsável, pois o tempo todo é tu contigo mesmo. Ninguém vai correr por ti e, se tu não estiver num dia bom, vai perder. Desde que comecei a jogar, passei a ser mais responsável na escola e em casa. Todo mundo aqui se puxa mais para poder continuar treinando — comenta.

A responsabilidade em casa e na escola é pré-requisito para os tenistas da Zona Norte. Quem reprova de ano, não treina. Para fazer a garotada entender o porquê desse rigor, Vinícius elaborou um método bem fácil de entender: o tênis está no topo de uma pirâmide de três partes. A base é a família. No meio, está a escola. Onde faltar um destes dois componentes, o tênis desaba.

— Digo isso para eles aprenderem que é preciso estar com a mente tranquila para poder jogar. Por ser um esporte individual, o mínimo problema levado para a quadra pode causar alguma distração e afetar o desempenho deles. É preciso ser organizado e responsável — avalia.

Para um projeto ainda incipiente, a amostragem não poderia ser melhor. Dênis não é o único a começar a mostrar talento. O professor também cita a jovem July Machado, 15 anos, como uma atleta promissora, vencedora de dois torneios em sua categoria. E com as condições adequadas, ainda há valores por surgir. Mais do que isso, cidadãos melhores. Enquanto as notas estiverem boas e a família for respeitada, novas raquetes vaidosas estarão dando a mão aos jovens caxienses da Zona Norte.

Novas parcerias

Quando Vinicius Flores deu início às aulas de tênis para os meninos da Zona Norte, parte da turma sequer tinha um tênis para treinar. O faziam de chinelos. Para alguns, essa ainda é a realidade. No entanto, ela começa a mudar conforme o projeto ganha novos apoiadores.

Em fevereiro deste ano, o tenista profissional caxiense Marcelo Demoliner tornou-se parceiro oficial da iniciativa e, através da academia Tennis Route, onde treina no Rio de Janeiro, conseguiu a doação de 16 raquetes novas, além de camisetas de jogo e bermudas. O empresário caxiense Carlos Alberto Tedesco, da empresa de tubos e conexões Valmaster, comprometeu-se a construir no complexo uma quadra  específica para a prática do tênis _ a atual, destinada originalmente ao futsal, tem as marcações para o tênis feitas com fita crepe, e para isso aguarda liberação da área por parte da prefeitura.

— Conheci o projeto por jogar tênis na academia contra o Vinicius e fiquei encantado. Iniciativas como essa tem que ser exaltadas e merecem toda o apoio. Futuros melhores para essas crianças estão sendo construídos aqui.

Ainda este ano, o projeto deixará de ser voluntário e passará a ter apoio da prefeitura, através do programa Fiesporte (que substitui o antigo Fundel). Com isso, o trabalho de Vinícius passará a ser remunerado e os treinos passarão a ocorrer em cinco horários semanais, ao invés dos dois atuais. Parte dos recursos serão destinados também para compra e manutenção de equipamentos.

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