Ele
já virou referência quando o assunto é equipamento de tênis. Há mais de
vinte anos no mercado, Jairo Garbi encontrou no esporte a realização
pessoal e também a profissional.
Hoje recebe clientes de todo o Brasil: amadores, jogadores profissionais e ex-tenistas nas duas lojas localizadas em São Paulo.
E foi lá, na Tênis ProShop, que batemos um super papo com um dos maiores especialistas em raquetes do país. Confira!
Como você descobriu o mercado de equipamentos?
Jairo
- Trabalhei, por dez anos, numa fábrica que fazia as raquetes Procópio,
Dornnay, Prince e Wilson, sediada na Zona Franca de Manaus. A fábrica
fechou, foi vendida e eu fiquei perdido. Pensei que com uma loja eu
poderia atingir meus objetivos pessoais e profissionais. E há 23 anos
montei a Tênis ProShop no Shopping Eldorado, em São Paulo.
Você sempre jogou tênis?
Jairo - Sempre joguei, mas quem me conhece sabe que eu sempre fui um jogador bastante medíocre (rs).
Existe uma raquete perfeita?
Jairo
- Não. Uma pessoa que tem o primeiro saque muito chapado e forte diz
que aquela raquete é a melhor do mundo pra isso. Então essa mesma
raquete não pode ser perfeita para um saque com efeito. Ou se uma batida
continental é ótima com uma raquete, não tem como a mesma ser perfeita
para uma batida com muito spin. Existe a raquete perfeita para
determinados golpes, mas nunca pra cem por cento deles.
Qual a diferença entre uma raquete com cabeça maior, tipo a Yonex, e uma com cabeça menor?
Jairo
- A raquete com cabeça maior é a que todo tenista amador deveria usar.
Nos Estados Unidos, a venda de raquetes oversize é maior do que as
raquetes midsize ou midplus. Na América do Sul o número é absurdo: de
cada dez raquetes vendidas, 9 são midsize. Além de serem mais fáceis
para se ter um bom ponto de contato, as "cabeçudas" soltam mais a bola e
geram menos vibração para o braço.
Há raquetes com mais peso no cabo, outras na cabeça e também as mais equilibradas. Qual a função de cada uma?
Jairo
- As raquetes competitivas têm o peso e o equilíbrio dirigidos pro
cabo, o que gera controle de bola. Já as que têm o peso concentrado na
cabeça são as de perfil largo, longas, com poucas cordas e geram
velocidade. Quando se tem muita potência, há menos controle e
vice-versa.
O mercado esportivo está sempre cheio de novidades e lançamentos. Como saber a hora certa de trocar a raquete?
Jairo
- Quando se é criança isso é muito fácil porque você vai evoluindo,
crescendo e a raquete se torna incompatível em relação aos seus
adversários. Por exemplo: um garoto cresceu um palmo em dois anos, os
adversários também. A bola fica mais pesada. Se ele não tem uma raquete
com um pouco mais de massa e no comprimento adequado, não consegue
jogar. Na fase adulta, quando a pessoa já tem um estilo de jogo
definido, não há essa necessidade. A não ser que o jogador tenha uma
evolução muito acima da média ou tenha utilizado uma raquete errada.
Então se ele tem um movimento de braço longo e usa uma raquete pra swing
curto, que solta muito a bola, é natural uma queda no controle. Vai
depender do estilo de jogo dele.
Qual raquete, que tipo de corda e quantidade de libras você recomenda para um tenista iniciante?
Jairo
- Corda de tripa sintética. Se a pessoa puder gastar um pouco mais,
indico a multifilamento. São cordas que absorvem muito o impacto e
colocam menos em risco o braço do jogador. A tensão depende de raquete
pra raquete, mas hoje a tendência é não se usar alta tensão, inclusive
entre os profissionais porque as cordas não afrouxam com tanta rapidez
como antigamente, a perda de libras é menor e as máquinas eletrônicas
são muito mais precisas.
A
gente sabe que um tenista profissional carrega várias raquetes. E um
amador, ou aquele que só bate uma bolinha no fim de semana, quantas
raquetes deve ter?
Jairo
- O ideal é o amador ter duas raquetes. Quebrou a corda? Coloca na
raqueteira, joga com a outra e depois vai pra casa. A não ser que jogue
torneios e aí a corda pode deixar o tenista na mão. A dica é ter duas
raquetes com tensões diferentes. Num dia o jogo é na quadra rápida, no
outro é no saibro, mais lento, ou até mesmo na altitude. São variáveis
que justificam o amador ter um par de raquetes.
Muitos clientes chegam às lojas e dizem: “eu quero a mesma raquete do Roger Federer!”.
Sabemos que as raquetes utilizadas pelos profissionais são customizadas
de acordo com as necessidades de cada um. O que difere a Wilson BLX de Roger Federer da Wilson BLX que você vende na loja? Como explicar isso ao cliente?
Jairo
- É bem complicado, principalmente para os jovens, que querem a raquete
dos ídolos e nem sempre isso é possível. As raquetes dos profissionais,
em geral, são as mesmas que a gente encontra nas lojas. Só que o
profissional precisa de um peso maior, um equilíbrio pessoal. É a
chamada customização, feita exclusivamente para ele, que joga num nível
avançado. O amador pode usar o mesmo modelo do profissional, que não é
customizada, mas é mais pesada e exige muito do braço do jogador. A
diferença é que o tenista amador joga duas ou três vezes na semana, já o
profissional joga 4 horas por dia e faz preparação física. Então pra
jogar com uma raquete de profissional tem que ter preparação senão vai
ter uma “conta física pra pagar”.
A variedade de cordas é cada vez maior no mercado. Como escolher a ideal?
Jairo
- O nylon é muito simples, a gente brinca que é nylon de pesca, mas
atende a um grupo específico de jogadores: os que querem pagar pouco ou
jovens iniciantes. Já a tripa natural é a melhor do mercado, mas tem um
preço elevado e a durabilidade é pequena. Se eu pudesse dividir todas em
dois grupos diria que todo amador deve usar cordas de multifilamento e
todo profissional deve usar cordas de copolímeros.
Quais as vantagens de um encordoamento híbrido?
Jairo
- O híbrido tem várias funções, mas a principal é otimizar a
durabilidade sem tirar totalmente o conforto. Quando o jogador usa a
multifilamento e quebra muitas cordas, sugerimos o híbrido:
multifilamento nas transversais + copolímero nas verticais, que são as
que quebram com mais facilidade. Só pra citar como exemplo, Roger
Federer usa encordoamento híbrido.
Qual a diferença entre o encordoamento feito numa máquina eletrônica e o feito numa máquina manual?
Jairo
- A diferença é brutal. As manuais desregulam com muita facilidade. Se
forem encordoadas duas ou três raquetes na sequência, a primeira será
totalmente diferente da última. Já as eletrônicas são autoreguláveis e o
encordoamento é indêntico para todas.
Outro detalhe muito importante é a empunhadura, que varia muito de pessoa pra pessoa. Como saber o tamanho correto?
Jairo
- As boas lojas têm um medidor de mão, o que facilita bastante na hora
da compra. É como calçar um tênis: é o seu pé que está lá dentro, então é
você quem tem que dizer se está confortável ou não. Mesmo utilizando o
medidor, é preciso empunhar a raquete e obervar um regra básica: medir a
distância entre o terceiro dedo e a bochecha do dedão, que deve ser de
um dedo entre eles. Esse é o tamanho correto.
Como escolher o overgrip?
Jairo
- Existem dois tipos de overgrip: o que te dá mais absorção e o que te
dá mais aderência. Se você transpira muito, escolha os porosos que vão
absorver mais o suor. Caso contrário, prefira os de aderência.
O leather grip ainda é usado por alguns profissionais, mas é difícil de ser encontrado no mercado. Pra que ele é indicado?
Jairo
- O grip de couro tem uma grande vantagem: ele marca as arestas da
raquete e, assim, é mais fácil encontrar a empunhadura durante o jogo.
Você troca e identifica a empunhadura muito mais rápido do que se tiver
um cabo arredondado ou com as arestas pouco acentuadas.
Antivibradores são realmente necessários? Por que alguns jogadores usam e outros não?
Jairo
- É pessoal. Eu não consigo jogar sem antivibrador. Meus filhos, quando
pegam minhas raquetes, a primeira coisa que fazem é tirar os
antivibradores. A função deles é reduzir a quantidade de vibrações que a
raquete passa pro seu braço, diminuir os ruídos, a sensibilidade.
Sempre indico o antivibrador para as raquetes de alumínio, de fibra de
vidro e até de fibra de carbono. Para quem compra uma raquete
profissional já se pressupõe que o jogador tem ou não o hábito de usar o
acessório.
Qual o tempo de vida útil das bolas de tênis? Existe muita diferença de qualidade entre as marcas fabricantes?
Jairo
- Existe muita diferença entre bolas. A quantidade de lã que você tem
no feltro de uma bola, muitas vezes indica a qualidade dela. Quanto mais
sintética, mais rapidamente ela se desgasta. Quanto mais lã tiver, mais
tempo a bola vai durar. Além do feltro, há o problema da pressurização,
da construção do miolo. Alguns são feitos com grupos de borrachas A, B e
C. As bolas Championship são as mais simples, duram pouco, mesmo se não
forem usadas. Quando usadas, elas já ficam carecas em 3 ou 4 sets. Já
uma bola de primeira linha custa mais, porém é economicamente mais
viável pois absorve mais o impacto e tem maior durabilidade.
A
maioria dos equipamentos tem excelente qualidade e por isso um custo
elevado. Como otimizar ao máximo a vida útil da raquete, do grip, do
calçado?
Jairo
- Todos os produtos do mercado de tênis são importados, então estamos
muito ligados à cotação do dólar e aos impostos. Pra otimizar é preciso
saber escolher os produtos e não comprar errado. Por isso procure um
profissional da área pra te orientar. Hoje existem raquetes
intermediárias com bom preço que são suficientes mesmo para jogadores
avançados. Os acessórios são baratos: cordas, grips, cushion grips,
antivibradores. O calçado é caro, mas é difícil otimizar porque tênis
ruim prejudica muito a postura física do jogador. Pode economizar na
raquete, mas não economize no tênis porque o calçado faz toda a
diferença.
No tênis todo cuidado é pouco. Quais os possíveis problemas que um jogador pode ter se não escolher os equipamentos corretos?
Jairo
- A raquete deve ser adequada ao jogador, caso contrário pode gerar
incômodos no ombro e no cotovelo, o chamado tennis elbow. O calçado
correto é fundamental para proteger joelhos, tornozelos, lombar,
cervical.
É
importante a comunicação entre professores de tênis e lojistas para que
o aluno faça a compra certa e tenha um bom desempenho em quadra?
Jairo
- Muitos professores orientam os alunos e isso pra nós, comerciantes,
ajuda muito. Afinal é o professor quem tem a verdadeira leitura do
estilo de jogo do aluno e de sua vontade de evoluir ou não. São
informações importantes que evitam muitas compras erradas.
Quais as dificuldades e os desafios do mercado de tênis no Brasil? Qual a sua avaliação de uns anos pra cá?
Jairo - A
gente teve um “efeito Guga” gigante, aproveitamos pouco, ficou um
legado mas não tão importante como esperávamos. A sazonalidade do
esporte é muito grande e isso dificulta um trabalho a médio e longo
prazos. Hoje o mercado está absolutamente estável, infelizmente
não cresceu e não vejo muitos incentivos pra isso. As Federações e a
Confederação realizam algumas ações e isso pode ajudar o mercado no
futuro. Mas, se olharmos pra trás, não vejo um aumento no número de
praticantes.
Mesmo com a popularização do esporte no Brasil? Temos recebido mais torneios nos últimos anos.
Jairo
- Isso tem ajudado muito, mas os números ainda são ruins.
Principalmente com o fechamento das academias de tênis. Num raio de dez
quilômetros de onde estamos, cerca de doze academias fecharam as portas e
foram vendidas para a construção de empreendimentos imobiliários nos
últimos três anos.
Tênis é um investimento que vale a pena?
Jairo
- Sem dúvida. Sou praticante há quase cinquenta anos e em casa todos
jogam. É um meio esportivo, social e também profissional. Muitas coisas
boas acontecem numa quadra de tênis.
Mais informações:
www.tenisproshop.com.br / www.facebook.com/tenisproshop / Twitter: @JairoRaquetes
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