terça-feira, 7 de janeiro de 2014

Árbitra brasileira rompe tabu e faz sucesso no exterior


Divulgação

Gaúcha Paula Vieira tem apenas 22 anos, mas já demonstra a obstinação típica de quem sabe bem onde quer chegar. Em outubro de 2003, abriu mão do conforto de sua casa para fazer um concorrido curso promovido pela Federação Internacional em Buenos Aires. Voltou da Argentina trazendo na mala não apenas a experiência adquirida, como também o "white badge", certificado que lhe dá a oportunidade de ser árbitra de cadeira em torneios profissionais. "Até então nenhuma mulher brasileira tinha o certificado", conta, orgulhosa.

Embora admita que já sofreu com preconceito por ser mulher, Paulinha começa a obter sucesso no exterior. Depois de atuar como juíza de linha no ATP de Acapulco, foi convidada a permanecer no México para trabalhar em outros três torneios. Foi árbitra de cadeira no quali do challenger da Cidade do México e atualmente está em Obregon, onde se realiza um torneio feminino de US$ 10 mil. "A temperatura média aqui é de 38 graus. E isso porque é inverno, imagine no verão", brinca a árbitra, que trancou a faculdade de turismo para se dedicar ao tênis. "Meus pais me incentivaram a fazer o que gosto e isso foi fundamental para mim", diz. Nesta entrevista aotenisbr@sil, Paula lembra o início da carreira, fala sobre preconceito e traça planos para o futuro.

Por Fernão Ketelhuth

Como você começou no tênis?
Comecei jogando tênis, disputando alguns torneios estaduais. Logo percebi que não gostava de competir, mas queria permanecer no meio. Surgiram oportunidades para trabalhar com a arbitragem da Federação Gaúcha. Fiz meu primeiro curso da CBT com o Ricardo Reis e em seguida fiz o nível 1 da ITF, para poder atuar como linha.

De que modo você foi parar na arbitragem?
Certa vez, aconteceu um torneio brasileiro infanto-juvenil no clube onde eu treinava, o Petrópole Tênis Clube, em Porto Alegre. O árbitro-geral me convidou para ajudá-lo. Eu informava quando desocupava uma quadra ou quando um jogador precisava de árbitro. Fiz isso durante uma semana e gostei muito, mas não podia arbitrar, pois não tinha feito curso ainda. Nessa época eu tinha 16 anos.

Já sofreu com preconceito por ser mulher?
No começo sim, nos torneios masculinos.

O que houve?
Uma vez, em um torneio do Cosat, estava na quadra esperando os jogadores e um tenista me perguntou quando chegaria o juiz. Em outra oportunidade, estava fazendo linha num challenger e marquei uma bola boa. O jogador que estava do meu lado perguntou alto: "como é que colocam mulher para arbitrar?" Coisas desse tipo. Mas isso foi no começo. Não que não possam acontecer novamente, mas ao menos não têm acontecido.

Como é sua relação com os demais árbitros? Existe ciúme?
A relação é boa em geral. É claro que com uns eu me relaciono melhor. Mas todos vivemos bem entre nós. Acho que não existe ciúme. Trabalho só com homens, não tem mulher. Algumas vezes, em alguns torneios, trabalham mais duas juízas, mas são poucas vezes. Então aprendi a viver com 'eles'. Eles são minha família quando não estou em casa.

Como você obteve o certificado "white badge"? Qual a função dele?
O white badge é o primeiro nível da ITF para ser árbitro de cadeira. Tem mais três: o bronze, o silver e o gold. Ano passado, surgiu essa oportunidade para mim. A CBT é quem aprova os nomes e manda à ITF para podermos fazer o curso. Ele foi realizado na Argentina, em Buenos Aires. Fomos em cinco do Brasil: eu, George Higuashi, Ronie Bernardino, Clayton Ribeiro e Rafael Maia. Comigo passaram o George Higuashi e o Rafael Maia. Com o white posso atuar como cadeira em torneios profissionais. Sem ele, eu não estaria aqui no México.

Qual o próximo passo? A que patamar você pretende chegar na arbitragem?
O próximo passo é estudar e fazer muitos jogos, para um dia quem sabe, conseguir o bronze badge. Quero continuar subindo na arbitragem. É o que gosto de fazer. Batalhei muito para chegar aqui e agradeço à pessoa que mais me incentivou a continuar: Ricardo Reis. Ele é meu ponto de apoio quando preciso. Aliás, ele é o ponto de apoio de todos na arbitragem. Tenho um imenso carinho e respeito por ele.

DivulgaçãoComo foi esta experiência no México? O que deu para tirar de lição?
Bom, vim para o México porque fui aceita para fazer linha no ATP de Acapulco. Só que foram surgindo vários convites para eu ficar. O diretor do challenger da Cidade do México, Tano Cruz, me convidou para permanecer por aqui. Consegui fazer duas cadeiras no qualificatório. Estávamos só em duas mulheres, eu e Analia Vera, white da Argentina que trabalha muito aqui. Depois a senhora Olga de la Fuente, que é responsável pelos torneios femininos no México, me convidou para ficar nas outras duas semanas e fazer dois torneios ITF de US$ 10 mil cada. Um na cidade de Monterrey e outro em Obregon, onde estou agora. Faço só cadeira nestes femininos. Como são muitos jogos por dia, aprendemos muitas situações novas que servem como experiências para mim. Estou aproveitando muito, pois no Brasil não temos muitos torneios femininos.

Quais seus próximos eventos?
Meu próximo torneio, recentemente confirmado, é a Fed Cup, em Porto Seguro, que começa dia 19 de abril. Essa é minha última semana aqui e segunda-feira embarco para o Brasil.

O que é necessário para ser um grande árbitro de tênis?
Essa pergunta seria melhor respondida se fosse perguntada aos grandes árbitros, como o Carlos Bernardes. Estou apenas começando essa longa caminhada. Temos de ser responsáveis, disciplinados, saber bem as regras e gostar muito do que fazemos. Isso para mim é o mais importante.
 

Paula Vieira esta no ATP 250 de Auckland arbitrando. Nesse momento, está em quadra com John Isner e Lujas Lacko

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