sexta-feira, 25 de julho de 2014

Conheça as lesões mais frequentes no tênis.

Fonte: #TenisBrasil



     O tênis é um esporte que requer concentração, coordenação, agilidade e habilidade específica, além de uma relação direta entre a performance e o condicionamento físico e potência. É considerado um dos mais técnicos e difíceis de ser aprendido e praticado.

     Após as seguidas vitórias de Gustavo Kuerten, no final da década de 90 e início deste século, o Brasil viveu o seu grande momento no esporte. Era frequente o nome do "Manezinho" estar presente nas rodas de conversas esportivas e cada vez mais o esporte ganhou espaço nos noticiários. Os três títulos de Roland Garros fizeram multiplicar exponencialmente o número de quadras e de praticantes do esporte no país. O "País do Futebol" era também o "País do Tênis".

     Com o aumento do número de praticantes, cresceu também o número de lesões. A grande maioria nos membros inferiores (podendo chegar a 67% das lesões), seguido pelos membros superiores (até 49%) e pelo tronco (até 21%). As lesões musculares são as mais frequentes durante os torneios e a entorse do tornozelo é o diagnóstico traumático mais comum. A epicondilite lateral é a mazela mais frequente nos membros superiores. Acima de 40% dos tenistas profissionais desistem de um torneio por ano devido a dor lombar.

1) Lesões por sobrecarga: Representam cerca de 2/3 do total de lesões, são mais comuns em iniciantes, especialmente pela prática e execução incorreta dos movimentos. Essas lesões podem resultar em queda do rendimento ou até afastamento da quadra e dos treinos por longos períodos.
As lesões podem ser divididas em dois grupos: 1) Lesões por sobrecarga e treinamento excessivo (overtraining); e 2) Lesões traumáticas, que geralmente ocorrem durante os jogos ou treinos como as lesões musculares e as entorses de tornozelo. É importante que todos os envolvidos no treinamento como técnicos, professores, preparadores físicos, pais e os próprios atletas tenham conhecimento das lesões mais frequentes e suas implicações para que seja possível um tratamento com qualidade.

- Ombro - A dor no ombro está presente em cerca de 4 a 17% dos praticantes do esporte. Com o aumento da exigência física e da velocidade do jogo, o saque se tornou um dos fundamentos mais importantes do tênis. Desta forma, a articulação do ombro vem sofrendo com micro-traumatismos constantes e uma consequente elevação no número de lesões. Dentre estas, as mais comumente observadas no dia a dia do esporte são: lesões labrais superiores anterior e posterior (SLAP lesion), lesão labral ântero-inferior, tendinopatias e lesões do manguito rotador e ainda as discinesias da escápula.
As lesões labrais superiores, também chamadas de SLAP lesion, são caracterizadas pela desinserção da porção superior do labrum da glenóide, que é o mesmo ponto de inserção do tendão da porção longa do bíceps braquial. Boa parte dessas lesões podem ser prevenidas com exercícios educativos de fortalecimento e treinamento funcional escápulo-torácico e gleno-umeral e após avaliação especializada de um cirurgião de ombro, inicialmente são de tratamento conservador. Nos casos refratários, devem ser corrigidos por cirurgia.

- Cotovelo - Lesão mais característica, mais frequente nos membros superiores e conhecida do tênis, as epicondilites laterais, também chamadas de "Tennis Elbow" (Cotovelo do tenista), onde ocorre uma inflamação e progressiva degeneração dos músculos extensores do punho, que se originam no epicôndilo lateral. Causada por uso excessivo dos músculos extensores e pronadores do punho. O movimento tradicional de backhand (especialmente com uma só mão) quando executado de forma incorreta ou com desaceleração brusca do movimento causam dor progressiva, na face externa do cotovelo e no antebraço, podendo irradiar até o punho. Acredita-se que o uso de anti-vibradores possa reduzir a incidência. É mais frequente em esportistas iniciantes. O tratamento inicial é conservador (sem cirurgia), com antiinflamatórios e fisioterapia especializada, que pode durar até 12 semanas. Por vezes, a infiltração local de corticóide ou o uso de Plasma Rico em Plaquetas (PRP) são opções. Nos casos refratários, o tratamento é cirúrgico. É sempre bom lembrar que cada caso é um caso e deve ser avaliado individualmente.

- Punho - Local comum de lesões neste esporte, variam das tendentes e tenossinovites até a temida Necrose Avascular do Semilunar (Doença de Kienbock). Não se sabe ao certo as causas da patologia, mas é mais frequente em homens, de forma unilateral e com Ulna Minus (onde o osso Ulna é menor que o Rádio, prejudicando a biomecânica do punho). Acredita-se que é uma espécie de fratura por estresse, que evoluiu para a necrose. Os atletas citam dor no punho e no antebraço. O diagnóstico é confirmado através de exames de imagem (R-X, Tomografia, Cintilografia e Ressonância Magnética) e é classificada através dos estágios de Lichtman. Geralmente são de tratamento cirúrgico e quando acomete o punho dominante, o prognóstico quanto a prática esportiva é sombrio. Outras medidas são apenas paliativas.

- Quadril - a velocidade do jogo aumentou muito. Correspondem de 1% a 27% de todas as lesões em tenistas. As raquetes ficaram melhores, os jogadores ficaram mais rápidos e mais fortes e isso fica comprovado pela velocidade dos saques. Com isso, o movimento de pernas foi substituído pela rotação do quadril. Até essa alteração ser descoberta e entendida, muitos atletas se lesionaram e carreiras promissoras ficaram pelo caminho. Foi o caso de Guga, Magnus Norman, Gastón Gaudio e Fernando Gonzalez, entre outros, que sofreram com o diagnóstico de Impacto-Fêmoro Acetabular e Lesão do Labrum Acetabular. Esse problema acontece por uma incongruência na articulação, especialmente nos movimentos extremos da amplitude. Com isso, grosseiramente falando, é como se existisse mais osso na bacia e no fêmur do que deveria ter. Passa a ocorrer o impacto e com ele, a lesão progressiva e irreversível. Os pacientes geralmente mencionam dor na região inguinal (raiz da coxa), com irradiação para a coxa e que piora durante e após as atividades físicas, e progressiva limitação e redução da mobilidade do quadril. O tratamento inicial é através de fisioterapia e orientação das atividades esportivas, com reforço muscular. Nos casos em que este tipo de tratamento não funciona, o reparo da lesão por Artroscopia Cirúrgica do Quadril estaria indicada.

- Joelho - Articulação mais complexa do corpo, devido ao número de estruturas nobres como os ligamentos e os meniscos, estes estão sujeitos a lesão nos casos de torção, que no tênis ocorrem principalmente nos casos de "contra-pé" e na aterrissagem de saltos, como no "smash". Mas estas não são as mais comuns e sim as relacionadas com a sobrecarga e o super-treinamento, especialmente na Articulação Patelo-Femoral e no Tendão Patelar. Tem aumentado muito a participação feminina neste esporte e, com isso, os casos de sobrecarga patelo-femoral, que se caracteriza pela dor na região anterior do joelho, por alterações biomecânicas. O tratamento consiste em fortalecer a musculatura da coxa, especialmente o quadríceps, e melhorar a flexibilidade da cadeia posterior (isquiotibiais e panturrilha).
Outra mazela frequente, também causada por sobrecarga, é a tendente patelar, também chamada de Jumper's Knee ou Joelho do Saltador. Está relacionada com atividades de salto e, no caso do tênis, com aceleração e desaceleração repetidas. Tem relação com encurtamento dos isquiotibiais. O tratamento cirúrgico é de exceção. Realizar análise biomecânia e biocinética pode elucidar onde está a fonte do problema.


2) Lesões Traumáticas:

- Lesões Musculares - como todo esporte que envolve aceleração e troca rápida de direção, no tênis as lesões musculares representam um problema aos atletas, especialmente durante os torneios, e respondem por grande parte dos abandonos dos atletas nas competições. À medida que progridem na chave, com o cansaço pelo acúmulo de jogos, elas começam a aparecer. Neste grupo, as lesões na panturrilha são muito frequentes. Lesão limitante, o atleta é incapaz de praticar o esporte por dor e limitação para corridas. O diagnóstico e a graduação da lesão são feitos por ressonância magnética. O tratamento depende do grau e o tempo de afastamento nos casos leves (Grau 1) é de cerca de 10 a 14 dias e nos moderados (Grau 2) de até 6 semanas.

- Entorse do tornozelo - É a mais frequente lesão específica deste esporte, representando boa parte dos abandonos dos atletas durante as competições. Por mais que exista, hoje em dia, programas rígidos de prevenção, propriocepção e estabilização do tornozelo, a lesão é especialmente frequente quando a atividade é praticada em quadras rápidas, de cimento ou piso de lisonda. Diferente do saibro, que permite que o atleta deslize até o momento de atacar a bola, se este movimento de deslizamento for feito, provavelmente o pé irá prender no solo, levando à torção do tornozelo. Pode ser dividida em 3 estágios: leve, moderado e grave. O tratamento inicial é com fisioterapia e visa o retorno às atividades o mais breve possível, baseado em redução do edema, reparo das estruturas lesionadas e fortalecimento dos tendões estabilizadores dinâmicos e exercícios de equilíbrio e propriocepção.

Recapitulando:
Tennis Leg é uma ruptura parcial da cabeça medial do gastrocnêmio (panturrilha) durante uma arrancada;
Tennis Toe é um hematoma subungueal causado pela compressão dos dedos dentro do tênis e ocorre mais comumente em quadras duras.
Tenis Elbow é a epicondilite lateral - cotovelo de tenista -, como já foi citado.

      Existem alguns fatores de risco que podem predispor a lesões relacionadas ao tênis, como o volume e intensidade do jogo (treinar 8 horas/semana aumenta o risco em relação aos que treinam 5,5 horas/semana). Quando analisamos a expertise, os atletas principiantes têm uma maior prevalência de lesões quando comparado aos profissionais. Os atletas com empunhadura tipo western têm um risco maior de desenvolver lesões nos tendões extensores do punho, enquanto os com empunhadura tipo eastern sobrecarregam tendões do polegar e flexores do punho. Os praticantes do esporte no piso tipo grama (como Wimbledon) ou saibro (Roland Garros) apresentam índices menores de lesões em relação aos torneios realizados em piso "duro" (Abertos da Austrália e dos Estados Unidos).
Algumas dicas: procure jogar com raquetes adequadas e não muito leve (menos do que 290 gramas). Utilize antivibrador. Flexione bem os joelhos para sacar e bater o backhand. Evite colocar tensão superior a 58 libras nas cordas. Raquetes com perfil largo reduzem a chance de desenvolver tennis elbow.

     Para tenistas não competitivos, treinamento físico inadequado e técnicas impróprias podem ser a causa de lesões. Embora a maioria das lesões neste esporte se dê por treino excessivo, a boa notícia é que tais lesões podem ser prevenidas com algumas mudanças nas rotinas técnicas e de treinamento.
Se tiver uma dor muito forte perto de articulações (especialmente joelho e tornozelo) que não apresente melhora num período de até 5 dias , vale a pena procurar um ortopedista, de preferência com experiência em Esportes. Pode ser que uma pequena lesão esteja acontecendo e o tratamento precoce pode evitar a complicação da lesão.

     O limite do nosso corpo, geralmente, a gente só conhece quando ultrapassamos ele, portanto, CUIDADO.


Referências Bibliográficas
Abrams GD, Renstrom PA, Safran MR. Epidemiology of musculoskeletal injury in the tennis player. Br J Sports Med. 2012 Jun;46(7):492-8.
Sell K, Hainline B, Yorio M, Kovacs M. Injury trend analysis from the US Open Tennis Championships between 1994 and 2009. Br J Sports Med. 2012 Aug.
British Journal of Sports Medicine. 40 (5), 454-459, 2006.


 
Dr. Rodrigo Góes é membro da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia e especialista em cirurgia de joelho e medicina esportiva. Formado em 2002 pela Escola de Medicina Souza Marques, integrou o corpo médico do COB em 2012, nas Olimpíadas de Londres. Por 11 anos, fez parte do Depto. Médico do futebol amador do Fluminense e atualmente é responsável pela equipe Niterói Vôlei Clube e dos judocas do Instituto Reação, do medalhista olímpico Flávio Canto. É professor de Pós-Graduação na Universidade Veiga de Almeida e na Universidade Federal do Rio de Janeiro. Site: www.rodrigogoes.com

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