sexta-feira, 22 de novembro de 2013

ATP Buenos Aires X ATP São Paulo

Fonte: http://tenisnews.band.uol.com.br/





 
Por Ariane Ferreira - Após acompanhar in loco os dois maiores eventos sul-americanos este ano, o Brasil Open, no Ginásio do Ibirapuera, em São Paulo, e o ATP de Buenos Aires, no Buenos Aires Lawn Tennis Club, o Tênis News elaborou um comparativo de ambos.

A rivalidade Brasil e Argentina acirra os mais nacionalistas e acaba afastando a cooperação de nações 'irmãs'. No tênis a sensação é outra, argentinos utilizam os circuito de Futures e Challengers brasileiro, assim como o contrário ocorre.

"Nos sentimos em casa", diz Horácio Zeballos, argentino atual campeão do Aberto de São Paulo, challenger do início do ano. Enquanto a interação de atletas e demais profissionais acontece as administrações de torneios parecem dissociadas, o suficiente para não existir troca de experiências.

Incluídos ao circuito da ATP em 2001, o Brasil Open e o ATP de Buenos Aires ajudaram a formar a famosa 'gira latino-americana no saibro', composta ainda pelo torneio 250 de Vinã Del Mar, no Chile, e o ATP 500 de Acapulco, no México - ano que vem a gira se tornará exclusivamente sul-americana com a chegada do ATP 500 do Rio de Janeiro e Acapulco migrando pro piso duro.

As semelhanças entre os torneios não param em detalhes como piso e proximidade de calendário. Desde 2009 os eventos não têm um campeão que não seja espanhol. Nacionalidade de seus maiores campeões, os tricampeões Nicolas Almagro no torneio brasileiro e Carlos Moyá no argentino.

A título de estatística os ATPs estão próximos, mas param por aí. Estrutura, tradição e público criam uma lacuna entre eles, o que pode enfraquecer o lado brasileiro com a nova disposição do calendário 2014. Confira e entenda quais são as principais diferenças:

Ingressos - A estrutura de venda imposta em Buenos Aires é semelhante a brasileira, conta com vendas de bilheteria, pela internet e por telefone. A grande diferença está na organização.

Segunda-feira, 25 de fevereiro, um dia após o fim da edição 2013 e o site do torneio portenho já disponibiliza um cadastro prévio para informações das entradas para 2014. Desta forma, pessoas e empresas podem se programar para o evento do próximo ano, possivelmente a partir de junho, preços e prazos iniciais estarão divulgados.

A principal falha do torneio paulistano: pela segunda vez disponibilizou entradas em pequenos lotes e com prazos muito próximos ao torneio. Tudo começou a ser vendido em janeiro. A ansiedade e grande procura limita os serviços de vendas e ao contrário de colecionar espectadores animados, o torneio ganha em nível de estresse.

Ponto positivo do Brasil: o torcedor compra um ingresso e ele vale para o dia todo, desde que o não perca a pulseira de identificação. Em Buenos Aires a compra tem que ser feita por períodos (tarde e noite) e em caso de chuva e cancelamento de rodadas, há a burocracia para trocar ingressos pelo válidos do dia seguinte.

Os ingressos portenhos tem numeração e há orientação para se localizar.

Alimentação - Maior problema da primeira edição em São Paulo, a alimentação segue como grande preocupação do fã de tênis ao vir ao Brasil Open. O Ginásio do Ibirapuera dispõe de uma lanchonete e muitos ambulantes nas arquibancadas, que muitas vezes atrapalham os espectadores ao tentar fazer seu trabalho.

Em Buenos Aires foi organizada uma praça de alimentação, nela pelo menos 10 opções diferentes entre um almoço completo para a família, o típico asado argentino, saladas e grelhados, lanches, doces e até sorveteria.

No torneio portenho é possível pensar na hora da alimentação como um momento a mais de diversão. Há filas, mas nada comparado aos 10 minutos para se comprar uma água de coco ou os 30 minutos em uma lanchonete próxima ao Ibirapuera.

Equipe - É nítido que a organização em São Paulo tentou melhorar sua atuação em comparação a 2012, mas a equipe de segurança segue como seu 'calcanhar de Aquiles'. Os brasileiros são mal educados e não conhecem a estrutura do evento. Não houve nenhum profissional de segurança do Brasil Open que sabia informar algo além do limite de seu terno.

Em Buenos Aires foi diferente, não há "homens de preto" por toda a parte e qualquer membro da organização que você pare para perguntar algo, sabe te informar. Em raríssimas exceções recorrem ao sistema de comunicação para dar a resposta certa.

Outra coisa importante é a equipe de informação. Na entrada do clube há uma "central de informações", nela é possível retirar cópias do mapa complexo onde o torneio acontece, ter em mãos os horários dos jogos e suas quadras, além de obter todo e qualquer tipo de informação, inclusive números de serviços de táxis e itinerários do transporte público local.

História - Obviamente o tênis argentino tem mais tradição que o brasileiro, mas em Buenos Aires é possível se respirar essa tradição. Ao comprar um sorvete, por exemplo, você poderia ter sido servido por Juan Ignácio Chela, grande nome local. Não era uma ação de marketing, o ex-tenista perguntou se os vendedores precisavam de ajuda e ao ouvir um sim, trabalhou um pouco para a alegria dos presentes.

Os espaços dos patrocinadores do torneio, que são em maior número se comparados a São Paulo, são em estruturas provisórias como no Brasil. Cada estande organizou uma programação, disponível de maneira impresa na entrada do clube.

Não há um "desespero" por parte da organização para colocar grandes nomes do esporte em áreas vips ou 'cercadinhos' no meio da arquibancada. Gastón Gaudio, campeão em Roland Garros 2004, assistiu a todos os jogos do qualificatório no meio da torcida.

Guillermo Coria, ex-top 3, não vive em Buenos Aires, mas esteve no torneio para prestigiá-lo a convite da organização. "Preserva nossa história", comentou Rosário Savedro, fã de Coria, que teve a possibilidade de revê-lo no torneio e atualizar seu álbum de fotos.

Público - Não adianta culpar as organizações pelo insucesso de algum evento, quando o público é parte primordial. Nisto, talvez pela cultura, o Brasil Open perde levando pneu do público hermano.

Em Buenos Aires os ingressos são numerados, ninguém senta em um lugar que não é o seu. Sacolas e bolsas ficam no colo de seus donos ou aos seus pés. Nada de bolas, lanches ou brinquedos guardando lugares por quase todo um jogo. O dono da cadeira sempre a encontrará livre.

Setores de imprensa, patrocinadores, vips e etc são respeitados. Ninguém usa do "Eu paguei, quero um bom lugar" para burlar a marcação de lugares.

Nos jogos, o público portenho mostra que compreende melhor o esporte do que o brasileiro. Não há histeria, pouquíssimos se manifestam entre os serviços e se o fazem alguém lhe chama a atenção. Aplausos e comemorações são por jogadas importantes, bonitas, em geral as que merecem ser ovacionadas.

O respeito pelos atletas é tamanho, que apenas em dois momentos em toda a semana houve vaias. Elas foram direcionadas a reclamação exagerada de Nicolas Almagro no jogo contra Stanislas Wawrinka, que também foi vaiado por falar palavrão e reclamar do rival.

Quadras - As quadras improvisadas do complexo do Ginásio do Ibirapuera obviamente são inferiores as do parque Lawn Tennis, que é exclusivo para o esporte em Buenos Aires. Este ano especificamente os buracos nas quadras paulistanas e sua bola não merecem nem ser comparadas, os resultados dos atletas que comporam ambas as chaves justificam qualquer juízo de valor.

Complexo - O Buenos Aires Lawn tennis Club foi fundado em 1892 e com o passar dos anos foi modernizado. São mais de 12 quadras de saibro, uma especial para a organização de arena, que forma a quadra principal para mais de 5 mil pessoas. Além das duas secundárias e todas as demais para treino, nas mesmas condições que as de competição.

O complexo ainda conta com quadra de grama e piso duro. Há espaço suficiente para a montagem da estrutura para o evento.

O Ibirapuera é mais jovem, tem 60 anos, mas o Ginásio em sim é antigo e defasado. As demais quadras ficam no complexo Mauro Pinheiro, muito distantes da Central, e o problema não é só a distância, são os muitos carros 'empilhados' no estacionamento, tirando o ar e visual de complexo esportivo.

As quadras de treino em São Paulo são fora do Ibirapuera, no complexo Militar ao lado. É ruim para os atletas. Foi flagrado tenista reclamando da distância. "Vamos ter que andar uns dez minutos para achar o lugar. Não dá pra ficar parando", disse um dos cabeças de chave no torneio paulistano a seu treinador. Além de ser ruim para fãs que também querem ver como é um treino.

Pontos diferenciais - Em Buenos Aires a companhia de engenharia de tráfego da cidade organiza um "esquema" de trânsito com sinalização, bloqueios e bolsões para estacionamento procurando facilitar a vida do público.

Estaciona-se a um preço justo, o zona azul local, a cerca de cinco minutos da entrada. Na saída há bolsões para táxis, como em São Paulo, e a secretaria de transportes da cidade diminui o intervalo entre os ônibus locais.

São Paulo sempre poderá reunir um público melhor e maior, pois sua quadra central recebe 9300 pessoas, mas o torneio tende a ficar obsoleto em virtude dos erros junto aos atletas em 2013 e o novo calendário para 2014.

Nadal fez bem para o torneio, mas público e organização esqueceram de que a chave de um torneio ATP 250 é composta de outros 31 atletas da chave principal vários de duplas e do torneio qualificatório.

Analisando os dois torneios é perceptível que, mesmo sem querer, faltou valorização do esporte tênis por parte do torneio paulistano.

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